Me percebo nesse momento tentando rebuscar memórias de infância, quando era mais ignorante, ingênua e acreditava nas histórias fantasiosas que contavam de diversas maneiras, as histórias inverídicas que os adultos perpetuam sobre coisas sérias- ou que, pelo menos, merecem seriedade-, as notícias deturpadas que chegam através dos meios midiáticos, sempre os mesmos, numa roupagem padronizada. Ainda crianças, somos obrigados a submissão ao modo de vida estúpido das gerações vigentes.
Outro dia meu sobrinho de 5 anos me perguntou se a chuva era o xixi das nuvens, não sei ao certo de onde surgiu tal idéia, pode ter ouvido de alguém que acha que os pequenos são otários, ou não. Em todo caso falei-lhe sobre o ciclo da água e agora ele já sabe, como sabe também que o saboroso lanche que ele consome no Mc lanche infeliz é proveniente da injustiça e sofrimento animais, embora certos adultos tentem lhe convencer de que isto é mentira e os bichos morrem felizes por cederem suas vidas aos caprichos humanos.
Contentei-me quando ele aprendeu que somos animais, todos nós, e apenas nos diferenciamos em espécies, mais na frente quero que entenda que somos, de fato, iguais: animais humanos e não humanos, providos do mesmo indício de vida. A prova disso é que, quando se é criança e morre alguém próximo ou um bicho de estimação, o sentimento que vem à tona é o mesmo, sabemos que cada vida que se vai é insubstituível, independente de como ela tenha se manifestado. E deveríamos conservar isto.
Ainda se tratando de morte e de crianças, creio que estas lidam melhor com aquela, de uma forma natural, simples, como deve ser. No dia que vovô morreu- no caminho de volta pra casa, na estrada em uma tarde de chuva- questionei-me sobre seu lugar no mundo depois dessa transição, meu sobrinho perguntou-me, como quem está a certificar-se, se vovô estava agora junto de papai do céu, eu lhe disse que sim e aquietei meus pensamentos.
Hoje redescobri algo que havia se perdido com o tempo; quando encontrei o gato preto morto sob um céu nublado que precedia o cair de uma chuva, tive certeza de que Tremendinho fora para o céu dos gatos, como também soube que quando uma nobre vida se esgota, o céu respeitoso demonstra seu luto e derrama suas lágrimas, nos fazendo lembrar que ambos seguimos um ciclo nem sempre natural, porém fatídico, de exitência.
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